29/02/2012 Hollywood no vermelho
O Portal Como Investir selecionou alguns filmes para ilustrar os apuros dos personagens hollywoodianos e as decisões que eles deveriam ter tomado antes de caírem em roubadas. Os economistas e planejadores financeiros CFP (Certified Financial Planner) Fabiano Calil e Fernando Meibak nos ajudam nessa missão divertida e nada impossível.
As Loucuras de Dick e Jane (Fun with Dick and Jane, 2005)
Dick Harper (Jim Carrey) é um funcionário esforçado que trabalha há 15 anos na empresa Globodyne. Ele se sente tão reconhecido e realizado quando recebe uma promoção para vice-presidência que pede à esposa Jane (Téa Leoni) para largar o trabalho e começa a gastar à vontade. Tudo vai por água abaixo quando descobre que foi vítima de um golpe milionário dos chefões da companhia, que logo em seguida pede concordata (qualquer semelhança não é mera coincidência: a história é baseada no caso da companhia de energia americana Enron).
Além de ser o “laranja” e porta-voz da empresa, ridicularizado nos noticiários, Harper se vê no fundo do poço quando se dá conta que todas suas economias foram aplicadas em ações da própria Globodyne.
O que Fabiano Calil diria a Dick Harper?
Quando há crescimento de renda, há dificuldade em manter o padrão de consumo. Contudo, para ficar mais livre no futuro e não ter a necessidade de continuar vendendo nossa mão de obra, o conselho para Dick seria segurar o padrão de consumo em vez de aumentá-lo. Porém, existe o status, os vizinhos, os desejos reprimidos (logo que Harper é promovido já pede para a esposa largar o emprego). é um risco, uma vez que grande parte da receita da nossa vida, cerca de 70%, é feita entre os 30 e 50 anos. é mais fácil manter o padrão de consumo no presente do que diminuí-lo de vez aos 60, 70 anos.
Novas despesas
Outro ponto impor tante é o comprometimento com despesas. A realização de um planejamento financeiro a partir das despesas está errado, deve ser feito a partir das receitas. Se a Globodyne não falisse, provavelmente Harper não conseguiria trocar de emprego, pois se “escravizou” com suas despesas.
Ações da companhia
Dentro de algumas posições executivas é coerente e politicamente desejável adquirir ações da companhia, mas até um certo limite. As receitas de Dick vinham do mesmo lugar: salário e ações da empresa. No caso de quebra, como aconteceu, ele perde toda a receita e pode até vir a perder o patrimônio.
à procura da felicidade (The Pursuit of Hapyness, 2006)
Chris Gardner (Will Smith) é um pai de família desempregado que investe toda a economia do clã em scanners que medem a densidadeóssea. Esses aparelhos vendidos para Gardner como um achado da tecnologia médica são na verdade máquinas consideradas ultrapassadas logo no mês seguinte. Por serem caras, os médicos de São Francisco não veem sentido em adquiri-los e o protagonista corre contra o tempo e as contas para encontrar alguma liquidez para seu “investimento”.
Enquanto isso, tenta arduamente ingressar como estagiário em uma corretora de valores. Em meio a essas dificuldades, a esposa de Gardner o abandona e, sem lar, ele busca dinheiro não apenas para sustentá-lo, mas para alimentar seu filho, Christopher (Jaden Smith), que o acompanha.
O que Fernando Meibak diria a Chris Gardner?
Não conhecer uma atividade não significa necessariamente ter maiores chances de fracassar. Existem inúmeros casos de sucesso em atividades novas e também de insucesso em empresas ou famílias que atuam nos mesmos segmentos por anos.
Contudo, Gardner deveria ter realizado um planejamento mínimo para avaliar o negócio: quais as vantagens competitivas, os riscos de concorrência, o potencial de demanda (baixo ou alto), os investimentos necessários, as fontes, os custos e as possíveis margens. Um conceito interessante é o stop loss: um limite de perda financeira deveria ter sido estabelecido ou mesmo um limite de tempo para o negócio fluir ou a partir do qual deva ser encerrado.
Esse planejamento deveria contemplar ainda fontes de suporte financeiro para o início da atividade. Há agências de fomento e investidores dispostos a bancar boas ideias.
Os delírios de consumo de Becky Bloom (Confessions of a Shopaholic, 2009)
A jovem jornalista Rebecca Bloomwood admirava desde pequena o universo de consumo. Quando criança, observava as pessoas fazerem compras sem dinheiro, apenas com “cartões mágicos”. Agora adulta, ela possui 12 desses cartões nada mágicos e cerca de US$ 16 mil em dívidas em compras desnecessárias. Enquanto seu guarda-roupa se entope mais a cada dia, ela se vê em uma enrascada maior ainda quando a revista de jardinagem na qual trabalha fecha as portas.
Sem dinheiro para pagar as contas e o aluguel, Becky tem a esperança de trabalhar na revista de moda que tanto admira. Por ironia do destino, ela acaba ingressando em uma revista de finanças. Para tentar frear sua compulsão por consumo, ela tenta de tudo: congela seus cartões de crédito, recorre à auto-ajuda e começa até a frequentar reuniões dos consumistas anônimos. Todas tentativas sem sucesso.
O que Fabiano Calil diria a Becky Bloom?
Quando uma pessoa sofre com problemas financeiros, como Becky, quanto mais cartões, maior é a armadilha. é convidativo: podem-se concentrar as despesas no dia do pagamento, é seguro, a maioria dos cartões oferece milhagem ou pontuação por dólar gasto, pode-se realizar compras pela internet, entre outros benefícios.
Contudo, nessa situação eu recomendo a Becky lidar com dinheiro em espécie. Assim que receber o salário, deve sacar tudo. Essa atitude ajuda na consciência das despesas. Ela poderia continuar comprando suas roupas, contudo em espécie para ter consciência de suas escolhas. é comum dos consumistas compulsivos nem abrirem as sacolas quando chegam em casa, porque o que eles buscam não está lá, por isso essa consciência é importante.
álibi financeiro
A personagem teve uma atitude correta em compartilhar com sua amiga sua situação financeira. é muito importante, pois em comportamento de consumidores compulsivos é comum a negação. A maioria deles nem abre suas contas. No filme Becky não acredita que as compras discriminadas em seu cartão são dela, acha que o cartão foi clonado. Uma pessoa de confiança ajuda bastante nesse momento.
Mais trabalho
Uma solução para quitar as dívidas seria ampliar a fonte de entrada de dinheiro com horas extras, freelas ou então a venda de um bem, caso possua. Contudo, é necessário mapear o que é realmente importante para subsistência, para viver e trabalhar. Por fim, uma renegociação também é uma boa opção em um prazo mais longo com valores menores.