O modelo de saúde adotado atualmente não é adequado para atender às demandas que surgem com o envelhecimento da população, opina o médico Renato Veras, doutor em Epidemiologia do Envelhecimento pela London University. “Quanto mais precoce o diagnóstico, melhor o prognóstico. Quanto menos intervenções e hospitalizações, melhor o estado geral da pessoa, que não vai ser submetida a um turbilhão de procedimentos que oneram muito o setor público”, diz.
Para ele, esse modelo, que chama de “hospitalocêntrico”, está fadado ao fracasso. Funcionando sob a lógica da doença, os gastos com saúde são inflacionados, já que os menos saudáveis utilizam com mais frequência os serviços médicos.
O médico Celso Murad, conselheiro do CFM (Conselho Federal de Medicina), concorda. Para ele, o aumento da população de idosos vai aumentar o número de atendimentos. Com isso, os serviços ficam mais caros para o poder público. “Se não mudar daqui pra frente, vamos ter um verdadeiro caos social”, diz, referindo-se a um crescimento menor da oferta de atendimentos em relação ao crescimento da demanda.
Hoje os maiores de 60 anos representam 10,8% da população brasileira. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), serão 18,7% em 2050. Para Veras, qualquer política pública na área da saúde deve permitir que os mais velhos mantenham a qualidade de vida ao longo dos anos, incentivando hábitos saudáveis (exercícios e alimentação balanceada), diagnosticando precocemente doenças e monitorando constantemente a saúde dos idosos.
Para Murad, a prevenção de doenças degenerativas (como Alzheimer e osteoporose) e do câncer deve ser objetivo fundamental de qualquer política pública. “A prevenção é fundamental. O Brasil tem que colocar na cabeça que é a forma mais barata e que produz efeitos mais rápidos.”
Na ativa
Um exemplo de política pública que promove o envelhecimento ativo é o PAI (Programa de Atenção ao Idoso), realizado pelo Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual) de São Paulo. A iniciativa mantém o idoso em constante atividade para que ele tenha menos risco de adoecer. O programa atende somente funcionários públicos do Estado e seus dependentes.
Quando os exames clínicos mostram uma piora, o paciente é encaminhado ao PAI. “A gente traça uma grade de atividade para reduzir os fatores de risco. Tem hipertensão? Vamos fazer um trabalho de reeducação alimentar e traçar uma grade de atividades físicas.”
Simone conta que, ao longo do programa, criado há nove anos, pensaram em oferecer oficinas de bordado, tricô, culinária e crochê, mas desistiram. “Hoje em dia eles não querem mais fazer isso.” Considerando as mudanças de comportamento de pessoas mais velhas, hoje o programa oferece atividades como informática, inglês, musculação, dança cigana e do ventre, atendendo cerca de 700 pessoas.
No PAI, Licinia do Céu Oliveira Ervolino, 79, faz alongamento, musculação, frequenta as aulas de informática e de dança sênior, além de ser voluntária na cozinha. Mas, segundo ela, chegou ao programa interessada na oficina da memória e no contador de história.Há dez anos, Licinia teve amnésia transitória em uma excursão a Gramado (RS). Para não voltar a ter o problema, passa por consultas de rotina na neurologia.
Para Murad, experiências como o PAI são uma forma ideal de manter os idosos ativos, mas o alcance ainda é limitado. “O problema é que temos ilhas de excelência. No resto do país, isso não existe.”
Fonte: Folha.com
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